Neil Gaiman: revista revela denúncia de abuso sexual por 8 mulheres

O escritor britânico Neil Gaiman, autor de obras como “Coraline”, “Sandman” e “Deuses Americanos”, voltou aos holofotes após uma publicação de extensa reportagem com detalhes de denúncias de abusos sexuais contra o britânico. 

De práticas de sadomasoquismo não consensuais a situações humilhantes como lamber fezes, os relatos colhidos e divulgados pela revista New York Magazine na segunda-feira, 13, ampliam as denúncias contra Neil Gaiman. Em julho de 2024, o podcast “Master” já havia publicado acusações de duas mulheres. Ao todo, o escritor recebeu denúncias de oito mulheres diferentes, entre os anos 1986 a 2022. Todas elas estariam na faixa dos 20 anos nos ocorridos correspondentes. A mais nova tinha 18 anos.


Os episódios descritos envolveram mulheres com relacionamentos consensuais com Gaiman e com diferença de quase 20 anos entre um e outro. Ele negou as acusações. Agora, foram divulgados os relatos descritivos sobre os casos. O autor ainda não se pronunciou.

Atenção: o texto a seguir contém relatos explícitos de abuso sexual e pode ser sensível para alguns leitores. 

Neil Gaiman: ex-babá denuncia abuso sexual 

A reportagem do New York Times conta inicialmente a história de Scarlett Pavlovich, aspirante a atriz que na época tinha 22 anos quando conheceu a cantora Amanda Palmer, até então casada com Neil Gaiman. Após virarem amigas, a artista ofereceu a Pavlovich um emprego como babá de seu filho.

Scarlett aceitou o trabalho. Gaiman e Palmer moravam em casas separadas naquela época. No primeiro dia, o escritor ficou sozinho com a nova babá quando o filho saiu para brincar. Ele teria sugerido à jovem para tomar banho em uma banheira da casa enquanto ele fazia telefonemas de trabalho.

Segundo Pavlovich, de repente ele entrou despido na banheira e, mesmo com a recusa enfática da jovem, a estuprou. Em outro dia, Gaiman tentou iniciar sexo anal sem lubrificação e Scarlett resistiu. Ele recuou brevemente, foi para a cozinha e, ao voltar, usou manteiga como lubrificante.

Ela seguiu gritando até que Gaiman terminasse. Quando acabou, ele a chamou de “escrava” e ordenou que “o limpasse”. Ao dizer que não era higiênico, ouviu do autor: “Você está desafiando seu mestre?”. “Tive que lamber minha própria merda”, disse.


Neil Gaiman: práticas de sadomasoquismo não consensuais e denúncias de abusos

Outra denúncia veio de uma mulher identificada como Kendra Stout. Ela teria conhecido Neil Gaiman em 2003, quando tinha 18 anos e ele autografava cópias da série de quadrinhos “Sandman”.

Ao longo de três anos conversaram por mensagens e ligações de vídeo, quando então decidiu visitá-la em Orlando, na Flórida. Ele a convidou para o seu quarto de hotel e tiveram relação sexual. Entretanto, segundo Stout, ele não usava lubrificantes.

Ao dizer que estava “doendo muito”, Stout ouviu do escritor que o problema era “ela não ser submissa o suficiente”. Gaiman era adepto do BDSM (Bondage, Disciplina, Sadismo, Masoquismo), mas nunca teria se preocupado com palavras seguras ou ações para não ultrapassar limites. Stout não era adepta da prática.

Outras mulheres também afirmaram que Neil Gaiman não respeitava os pedidos de fim de relações sexuais e forçava as vítimas a chamarem o autor de “mestre”. Em 2021, uma jovem chamada Caroline, que tivera relações consensuais quando ele era casado, também disse ter sofrido abuso quando Neil Gaiman.

Outro relato é de Katherine Kendall, que tinha 22 anos quando conheceu Gaiman em 2012, época em que era fã do trabalho do escritor. Ela afirma que ele tentou abusá-la em seu ônibus de turnê depois que ela disse que não queria fazer sexo com ele. A revista relata que, anos depois, ele pagou a ela US$ 60.000 (aproximadamente R$ 366.000,00) para terapia para “compensar o dano”.

Neil Gaiman: adaptações de obras também afetadas

Conhecido por grandes obras, Neil Gaiman já teve trabalhos adaptados para o audiovisual, a exemplo de “Sandman”, da Netflix. Até o momento, a segunda temporada segue confirmada e tem estreia prevista para este ano.


Entretanto, a terceira temporada de “Good Omens”, do Prime Video, sofreu grande transformação após as primeiras acusações em 2024. O que seria uma temporada normal virou um episódio especial de 90 minutos, mas as filmagens não se iniciaram. Neil Gaiman se afastou da série voluntariamente.

Em setembro de 2024, foi publicada notícia de que a Disney paralisou a produção de uma adaptação do romance “O Livro do Cemitério” em meio às denúncias.

Defesa

A defesa de Gaiman não nega as relações sexuais, alegando ao artigo da Vulture que todas as relações foram consensuais.