O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por orientação médica, não viajará para a Cúpula dos Brics devido a um impedimento temporário para viagens de avião de longa duração. A informação foi divulgada pelo Palácio do Planalto no início da tarde deste domingo (20/10).O embarque estava previsto para as 17h. Desse modo, Lula participará da reunião por meio de videoconferência e terá agenda de trabalho normal nesta semana em Brasília, no Planalto. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi designado para chefiar a delegação brasileira e embarca na noite deste domingo.
A reunião acontece em Kazan, na Rússia, de 22 a 24 de outubro. O encontro prevê a a emissão de uma declaração intitulada Fortalecendo o Multilateralismo para o Desenvolvimento Global Justo e Seguro. O documento contém 106 parágrafos que abrangem os avanços alcançados durante negociações setoriais, como informa o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, Eduardo Paes Saboia.
Essa será a primeira cúpula do Brics com a participação dos cinco novos membros que ingressaram no bloco este ano: Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia. Até o ano passado, o Brics era formado apenas por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No dia 23, a delegação ministerial brasileira acompanha as sessões plenárias dos membros do bloco. A presidência russa convidou para o encontro cerca de 30 países e organizações internacionais.
Durante a cúpula, os líderes dos atuais 10 países membros discutirão temas globais como a crise do Oriente Médio, operação política e financeira dentro do bloco, além de receberem relatórios sobre os trabalhos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), do Conselho Empresarial do Brics e da Aliança Empresarial das Mulheres. No segmento com convidados, por sua vez, estão previstas discussões sobre questões internacionais de cooperação para o desenvolvimento sustentável e inclusivo.
O principal tema da reunião de Kazan é a criação da categoria de países parceiros. “Na Cúpula de Joanesburgo, em 2023, foram incorporados novos membros plenos e, naquela ocasião, se encomendou ao canal de Sherpas a elaboração da categoria de parceiros. É nisso que é consumido o nosso trabalho neste semestre, quais são os critérios para essa modalidade, e há uma expectativa de que, aprovada essa modalidade, possa ser feito um anúncio dos países que seriam convidados para integrar essa categoria”, detalhou Saboia (confira vídeo do briefing apresentado pelo Itamaraty nasemana que passou).
Presidência brasileira
O Brasil assumirá a presidência do Brics em 1º de janeiro de 2025, e o país tem uma tradição de presidências produtivas e voltadas para resultados concretos. “Em 2014, durante a presidência brasileira do BRICS, foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento e o Acordo Contingente de Reservas, dois dos maiores êxitos do bloco. Então, será uma presidência austera, mais focada em resultados”, pontuou o embaixador.
O QUE É — O Brics é uma parceria entre as maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia. A primeira cúpula – ainda sem a África do Sul – ocorreu em 2009, na cidade de Ecaterimburgo, na Rússia.
O diálogo entre os países se dá em três pilares principais: cooperação em política e segurança, cooperação financeira e econômica, e cooperação cultural e pessoal. Cerca de 150 reuniões são realizadas anualmente em torno desses pilares. O principal objetivo do bloco, por meio da cooperação, é alterar o sistema de governança global, com uma reforma de mecanismos como o Conselho de Segurança da ONU, além de introduzir alternativas às instituições como o FMI e o BID para o fomento às economias emergentes, como é o caso do NDB.
Boletim médico
Boletim médico do presidente Lula publicado no dia 20.out.24 após acidente doméstico (Divulgação/Hospital Sírio Libanês)
De acordo com boletim médico, Lula sofreu “ferimento corto-contuso em região ociptal”, região responsável pela percepção visual. Ele levou pontos na região atrás da cabeça.
“Após avaliação da equipe médica, [Lula] foi orientado a evitar viagem aérea de longa distância, podendo exercer suas demais atividades”, diz o boletim. Um voo do Brasil a Kazan, onde será realizado o encontro, pode durar 17 horas. Os médicos consideraram que o melhor para o presidente era ficar em Brasília.
Ele foi atendido pelo cardiologista Roberto Kalil Filho, que viajou para a capital para atender o presidente.